Com o coração dividido entre Brasil e EUA, Pinheiro estreia no Brasileiro
Com o coração dividido entre Brasil e EUA, Pinheiro estreia no Brasileiro
Oito anos se passaram desde sua migração para EUA completa e Lucas lembra com carinho do salto dado rumo ao desconhecido em busca de uma vida melhor.
O Brasileiro de Jiu-Jitsu tem um valor especial para Lucas Pinheiro, peso-galo caçador de títulos pela Atos. Depois de fechar o topo do pódio da faixa-marrom em 2015, aquele Brasileiro seria o seu último até o deste ano, no qual retorna para testar seu jogo rumo ao Mundial de 2023.
Com a conquista no Brasil em 2015, fechando com Hiago George o título de campeão brasileiro, Lucas foi convidado para treinar e morar nos EUA, representando a Cícero Costha na época. Os percalços do campeão forjaram sua identidade atual e a saudade de competir num torneio tão difícil como o Brasileiro, que em 2023 acontece entre os dias 29 de abril e 7 de maio, faz deste o teste ideal para tantos anos competindo em alto nível, com vários títulos com e sem kimono na bagagem.
Oito anos se passaram desde sua migração completa e Lucas lembra com carinho do salto dado rumo ao desconhecido em busca de uma vida melhor.
"Não tinha condições financeiras de lutar fora, então foquei naquele Brasileiro de 2015 e juntei o que tinha para lutar o Mundial do mesmo ano, no qual fiquei em segundo lugar. Foram meses difíceis ao chegar nos EUA. Ganhei muitos campeonatos, mas o nível dos treinos na academia que dava aula no Texas não era nada comparado aos treinos no Brasil, então logo o rendimento caiu. Morei no Texas nos meus primeiros cinco anos. Passei por todo processo de documentação, tive que me virar para conseguir tudo e ainda treinar para competir. Foi um tempo de muitas incertezas, ansiedade e briga com a balança para seguir no peso-galo, mas as pessoas ao meu redor me ajudaram. Depois de um tempo fui para San Diego treinar na Atos, intensifiquei meu trabalho como competidor e voltei ao trilho das vitórias.”
Lucas eventualmente volta ao Brasil, para rever a família e competir, mas desde 2015 não lutava o Brasileiro. A expectativa do campeão é alta e a experiência acumulada neste intervalo mostra que o Brasileiro de 2023 pode ser o momento certo para retornar ao complicado torneio.
"Lutar no Brasil é sempre mais difícil. Desde a checagem do kimono até o final de cada luta. Tudo é mais perigoso! Mas eu gosto é do desafio. Quando eu me mudei para San Diego, pude investir mais nos treinos e competições maiores. Ganhei quase todos os maiores eventos sem-kimono no ano passado, menos o Pan, no qual eu já sou três vezes campeão. Com o Brasileiro, Europeu e Mundial em 2022, eu teria completado o Grand Slam sem kimono na faixa preta, não fosse o tropeço no Pan. Alcancei o feito de ganhar todos na contagem geral, mas em temporadas diferentes. Isso sem falar no ADCC Open, que eu venci em Vegas. Então chego muito confiante para este Brasileiro."
Outro motivo para ingressar o Brasileiro é esquentar as turbinas para o Mundial, torneio que acontece em poucas semanas, no início de junho. Para Lucas, testar suas técnicas contra a nova geração da sua categoria pode ser a chave para buscar seu primeiro título Mundial de kimono na faixa-preta.
"Os novos atletas estão cada vez mais evoluídos. Não é errado dizer que o Brasileiro pode até ser mais difícil que o Mundial. Contudo, quero dar um passo de cada vez. Eu sei de onde eu vim, onde estou e aonde quero chegar. Tenho muitos sonhos que me motivam a seguir em frente, mas o foco é no hoje."
Mas além de tudo, o fato de voltar ao Brasil para competir no Brasileiro tem o sabor de vitória só de poder voltar às suas raízes. Depois de casar com uma brasileira e ter uma filha nos EUA, tudo no Brasil remonta a tempos difíceis que foram superados. Muitas vezes sem dinheiro para ver a família, a situação financeira difícil que ficou no passado faz com que o simples fato de poder lutar em sua terra-natal já seja uma vitória.
"Vou curtir muito o Brasileiro, sendo campeão ou não. Quero aproveitar do mesmo jeito com a minha família. Amo treinar e competir no Brasil. Antigamente não tinham muitos torneios que pagavam bem no Brasil, diferente dos EUA. Então cada lugar tem a sua peculiaridade boa. Quando estou no Brasil sinto falta dos EUA, e vice-versa. Minha filha pequena já entende isso, e vai ser assim para sempre."